domingo, 12 de julho de 2009

"Adivinhe quem vem para jantar", de Stanley Kramer (1967)

Uma obra-prima do cinema, vencedora dos Oscars de melhor roteiro original e melhor atriz para Katharine Hepburn.
Estrela aqui, em uma atuação brilhante, Sidney Poitier, como John Prentice, um renomado médico negro de 37 anos que, de passagem pelo Havaí, conhece a belíssima e jovem Joey Drayton (Katharine Houghton), de apenas 23. Os dois, em 10 dias, se apaixonam de maneira tão forte e vivaz, que têm a irredutível certeza de que querem casar e viver juntos pro resto de suas vidas.
Havia apenas um problema. John era negro, e Joey branca.
Se hoje os Estados Unidos ainda demonstram seu racismo de forma aberta como, por exemplo, segregando os negros dos brancos em bairros próprios (situação absurda, que faz lembrar a postura nazista de que os judeus deveriam viver em bairros só de judeus), na década de 60 a coisa era muito pior.
Apesar de toda a fama de Prentice como um ótimo médico, com um currículo de dar inveja, e provando ser homem de incontáveis virtudes, ao ser apresentado aos pais de Joey (situação que ela intempestivamente forçou que acontecesse, por ser inocentemente livre de preconceitos), causa um choque notório à mãe (aqui interpretada pela famigerada Katharine Hepburn), e mormente ao pai (Spencer Tracy), um homem de já bastante idade, que apesar de tomar para si o liberalismo e a igualdade das pessoas, tendo pregando durante a vida mil e mil princípios humanitários, vê-se diante de uma situação jamais imaginada: a própria filha apaixonar-se por um negro. Kramer, com maestria, nos expõe algo muito comum nas sociedades, muito visível nos movimentos sociais, que é a hipocrisia na defesa de certas causas. Protesta-se; mas, no fundo, não se aceita. A mãe, que vê na felicidade de sua filha, a sua própria, já aceitara. O velho, contudo, vê-se confrontado com seus princípios, e tendo como única opção decidir em poucas horas se aprovava ou não o casamento, visto que traziam um passagem de avião, e o vôo estava programado para algumas horas depois.
Como se não bastasse, Joey imprudentemente convida os pais de John a jantarem em sua casa. Ressalte-se que os pais de John eram negros, e possuíam para com os brancos as mesmas restrições que os brancos para com eles. O espectador é levado a perceber, portanto, que o preconceito (ou a revolta contra a outra raça) nunca foi unilateral, mas ambidestro (a), e de uma intensidade incrivelmente igual.
Trata-se de um filme dialogal. Passa-se quase todo o tempo dentro da residência dos Drayton, o que força o espectador a atentar menos para o cenário e mais para as falas. É também uma grande "sacada" o fato de cada personagem interagir em particular com outro, havendo, em cada conversa, falas belíssimas e provocantes àqueles que empunham um racismo, seja abertamente, seja subconscientemente.
O diretor procura a linguagem de cinema para fazer sua crítica mordaz ao preconceito racial, em cima da mudança moral que os personagens precisam assumir em pouco tempo em face do casamento premente dos nubentes.
Nessa esteira, brilhantes são os enquadramentos nas expressões faciais dos personagens, notadamente nas do pai e da mãe de Joey. Vemos o pai enfrentando seus demônios; querendo manter certas convicções e, ao mesmo tempo, encaminhando-se para a redenção de seu pré-conceito. E a mãe, que pouco a pouco, e no ritmo certo, vai aceitando a idéia, até apoiar o casamento, em situação de inamovibilidade. Muitos são os closes dados nas expressões da mãe, que ainda que não falasse coisa alguma o filme inteiro, falaria tudo, de onde resta inegável a perfeição da atuação de Katharine Hepburn. Tanto é verdade, que o filme lhe rendeu o Oscar de melhor atriz.
Julgo impredível um filme como este, capaz de arrebatar muitos corações bastante duros e subverter muito do racismo que ainda há no mundo.
Assistam!

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