quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"O menino do pijama listrado", de Mark Herman (2008)

Depois de “O Pianista”, talvez o melhor filme a versar sobre a temática da opressão aos judeus pelos alemães, “O menino do pijama listrado” (baseado na obra literária homônima de John Boyne) é um filme intenso; intenso não no ritmo, nem por conter elementos de ação (em sentido estrito), mas pelos diálogos.
Vou explicar: acredito que o enfoque maior que se pretendeu dar foi ao antagonismo da inocência da criança em face das atrocidades da guerra, senão vejamos:
Por ocasião da promoção do pai, e o conseqüente chamado para ocupação de outro cargo mais importante em uma cidade que não Berlim (onde até então residiam), a família em tela acaba por mudar-se para outra casa, em outra cidade, totalmente fortificada e protegida por diversos soldados.
Nos anos que marcaram a 2ª Guerra Mundial, o menino Bruno, de 08 anos, interpretado por Asa Butterfield, representa a criança alemã inocente e ignorante em relação às atividades militares que vinham sendo realizadas. O pai, um militar nazista inteiramente fiel a Hitler, que ordenava, da cadeira de seu gabinete, a execução de diversas atrocidades. A mãe, uma mulher que defendia de maneira claramente (ao espectador) hipócrita os princípios nazistas; uma mulher íntegra, humanista, que se forçava a aceitar as ações das tropas alemãs, mas que, no fundo, discordava plenamente. A irmã de Bruno, Gretel, de 12 anos, sempre tendente ao conformismo com relação ao que os pais diziam, e que acaba por esta razão, e por impulso de um dos soldados subalternos a seu pai - por quem, por um breve momento do filme, apaixona-se -, aderindo à ideologia nazista.
É interessante ressaltar que o filme expõe seus acontecimentos na ordem certa, não permitindo ao espectador entrever, por exemplo, o que é a “fazenda” a que faz menção Bruno, quem são as pessoas que lá vivem e porque são “estranhas”. Aos poucos, no vulgo, “vai caindo nossa ficha”, quando começamos a perceber que trata-se de um campo de concentração, que as pessoas são os judeus, e que são “estranhos” por, terem o cabelo raspado e usarem roupas uniformes (que se assemelham a pijamas), tal qual presos de cadeia; a diferença é que os presos usam traje listrado preto e branco, e os judeus do filme, traje listrado azul e branco.
Após esta deflagração, é possível destacar diálogos fortíssimos, como quando Bruno pergunta a seu pai quem são “as pessoas que moram na fazenda”, e este lhe responde: “eles não são considerados como gente”. A carga histórica de uma afirmação como esta é evidentemente alta, inclusive remetendo-nos aos tempos da economia escravista, onde diuturnamente os escravos não foram considerados gente. Fortíssimas cenas também, como a de quando um empregado (judeu) acidentalmente derruba a taça de vinho de um soldado na mesa de jantar, e este leva-o para fora da sala de jantar, e o espanca brutal e desproporcionalmente.
Paralelamente a isso, Bruno, ao “explorar” os bosques da parte de trás da propriedade, chega ao terreno vizinho – onde ficava o campo de concentração – e acaba por travar conhecimento com Schmeul (Jack Scanlon), um garoto judeu da mesma idade.
É nas conversas com Schmeul que, retornando ao que foi dito anteriormente, o filme prima por explorar o antagonismo da inocência da criança, em contato com a dureza e a impureza do que era o nazismo.
Seriam cômicas – se não fossem trágicas – cenas como a que Bruno pergunta se a numeração inscrita na roupa de Schmeul é parte de alguma brincadeira, e Schmeul, sem saber explicar bem, diz apenas que não é brincadeira, que todos têm uma numeração. Ou a que Bruno, tendo ficado sabendo que os judeus eram “inimigos”, diz pesaroso para Schmeul: “não podemos mais ser amigos; temos que ser inimigos”. Depois volta atrás.
A amizade entre os dois, que se opera à sorrelfa, é momentaneamente quebrada quando um soldado os pega conversando na cozinha da casa de Bruno, causando uma pressão a ambos, que faz com que um entregue o outro. É que bruno dera a Schmeul um sanduíche; o guarda o flagra comendo e pergunta se ele roubara, respondendo este que não, que Bruno havia dado a ele. Então o guarda volta-se para Bruno e pergunta se este confirma, no que ele responde que não, e que nunca havia visto aquele garoto (Schmeul) antes.
Depois tudo se resolve, e Bruno, para sanar a dívida que sentia ter para com Schmeul, resolve ajudá-lo a procurar seu pai, que havia sumido (provavelmente tendo sido assassinado pelos militares). Daí então o espectador é levado a um fim súbito, um tanto quanto inesperado, e bastante entristecedor. Todavia, inteligentíssimo.
Sem mais delongas, o filme tenta mostrar que os adultos, em seus anseios políticos, esquecem o princípio da igualdade, os direitos humanos, e subvertem em si mesmos diversos valores, em nome de uma pretensa luta por um interesse da pátria, que já nasceu injusto, por seu caráter frio e anti-humanitário.
Não assistir este filme é estar num campo de concentração intelectual.

3 comentários:

  1. ficou excelente cara, gostei muito, explanaste de um jeito claro e interessante.
    pelo resumo deu pra sacar que parece muito também com A Vida É Bela, outro filme que envolve a inocência infantil versus a dura realidade vivida pelos judeus, fora que o filme se passa, em parte, em um campo de concentração.

    tá muito bom mesmo doido :D

    pedronunes.

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  2. Nossa, estou louca pra ver esse filme...agora ainda mais. Seu texto foi muito bom.
    Mas não espere mais meses para escrever novamente.

    ;)

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  3. Eu achei esse filme mt bom, exatamente por isso que comentastes, os diálogos são mt bem feitos!Contemplada pelo seu texto, agora, não sei se considero o melhor filme sobre a temática Nazista, acho que o Pianista ainda supera...

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