segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Trilogia dos Apartamentos - Parte II - "O bebê de Rosemary" (1968), de Roman Polanski


NOTA: Antes de dizer o que tenho a dizer, devo antecipar que, dada a complexidade e a numerosidade de detalhes com sentidos propositalmente coerentes com o objetivo deste filme, tive de me ater apenas aos mais importantes, ou então este texto inflaria absurdamente, quando é (ou deveria ser) relativamente curto.

Pois bem.
Três anos após o aterrorizante “Repulsa ao Sexo”, Roman Polanski nos presenteia com esta outra obra-prima, o filme mais conhecido da trilogia, além de ser tido com um dos mais assustadores filmes de horror já feitos: “O bebê de Rosemary”.
No elenco estão John Cassavetes, que fora revelado como ator (pois já era cineasta) um ano antes, pela trama de guerra “Os Doze Condenados”, de Robert Aldrich, e Mia Farrow (que despertou os olhares do público do mundo inteiro) no papel de Rosemary Woodhouse.
Adaptado do romance de Ira Levin, e vencedor de dois Oscars (Melhor Atriz Coadjuvante para Ruth Gordon e Melhor Roteiro Adaptado) Rosemary (Farrow) e Guy (Cassavetes) são um jovem casal que se muda para um apartamento com o intuito de começar uma vida a dois.
O espectador inevitavelmente simpatiza de cara com os personagens, cujo amor e sintonia parecem transbordar e contagiar a todos.
Este quadro, porém, vai paulatinamente sendo revertido, quando os vizinhos começam a ter atitudes estranhas, o que deixa Rosemary bastante perturbada. Minnie Castevet (Ruth Gordon) é uma senhora bastante solícita e inconveniente, que está sempre oferecendo coisas a Rosemary, utilizando como pretexto a “política da boa vizinhança”, mas que, com o tempo, acaba tornando-se suspeita de algo misterioso.
Quando resolvem ter um filho, o Dr. Abe Sapirstein é o médico responsável pela gravidez de Rosemary que, não obstante suas queixas de dores e diversas manifestações corporais que não parecem normais, sempre diz que nada há de errado.
Todos, aliás, parecem concordar com a idéia de que Rosemary está preocupando-se à toa, e considerar que continue a tomar os sucos oferecidos pela Sra. Castevet, preparados a partir de ervas que ela própria cultiva em casa.
No decorrer do filme, percebemos o quanto os personagens mais insuspeitos vão sendo lentamente desmascarados. Posso citar o fato de Guy, que era ator, ter conseguido um papel importante através de uma inexplicável e repentina cegueira do ator que fora escolhido em seu lugar. Ressalto também o fato de Rosemary ganhar de Minnie Castevet um amuleto feito com raiz-de-tanis – que houvera antes sido dado a uma moça que morava com os Castevet, e se suicidara –, uma espécie de planta com mau odor, responsável por dopar as pessoas, e melhor mantê-las sob influência (depois descobrimos que tratava-se, na verdade, de um fungo utilizado em rituais satânicos). Posso citar ainda a questão do mousse de chocolate que Rosemary bebe na noite em que tinha planejado conceber um filho com seu marido; ele continha um poderoso alucinógeno, graças ao qual se produziu uma das mais importantes e memoráveis cenas deste filme: a de quando Rosemary, após quase desmaiar, é conduzida à cama por Guy, e passa então a experienciar algo bizarro, uma mistura de sonho e realidade, onde parece ser objeto de um ritual, sendo que quem está envolvido são os vizinhos e seu próprio marido, e onde tem relação sexual com o demônio, quando, corporeamente, o teve com Guy.
Só uma digressão: a dicotomia delírio x realidade, presente em toda trilogia, aqui também existe. Mas neste filme há também uma outra: catolicismo x satanismo. A todo instante podemos perceber a maneira massiva com que Polanski antagoniza a pureza principiológica, moral e inocente do catolicismo de Rosemary, com a insensibilidade do satanismo. Por quê? Vocês verão.
Voltemos. A partir de então, a protagonista começa a ter certeza de que há uma conspiração, sobretudo após ouvir de seu amigo Hutch que sem dúvida havia algo de errado. Este mesmo amigo a chama para uma conversa em particular num determinado lugar, mas infelizmente não consegue comparecer, pois “estranhamente” entra em coma e, dali a três meses, morre.
Porém, deixa para Rosemary um livro intitulado “Todos eles bruxos”, com o recado de que há um anagrama a ser feito com o nome de um dos personagens de quem o livro trata. Rosemary descobre que Steven Marcato, com uma certa mudança de letras, resulta em Roman Castevet, seu vizinho, aterrorizando-a. Vai atrás do Dr. Sapirstein mas, após sentir na sala de espera de seu consultório o mesmo cheiro do amuleto que ganhara, desespera-se ainda mais e vai atrás do Dr. Hill, outro médico obstetra, que parece ser sua única esperança. Este aparentemente acredita em sua história, mas permite que Guy e o Dr. Sapirstein busquem-na. Eles a levam para casa e conseguem aplicar-lhe injeção com tranqüilizante. Quando Rosemary acorda, seu filho já nascera, mas insistem em tentar convencê-la de que morrera.
É quando a protagonista resolve saber o que há por trás de uma porta do apartamento que fora bloqueada por um armário. O que há por detrás? Absolutamente nada? Delírio de Rosemary? Ou haveria de fato uma conspiração?
Deixo oculto a vocês o final super-interessante que tem este filme, que é um choque a todos.

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